
Reconhecidamente, o setor da construção civil tem papel
fundamental para a realização dos objetivos globais do desenvolvimento
sustentável. O Conselho Internacional da Construção – CIB aponta a indústria da
construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos
naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos
ambientais. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há
aqueles associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Estima-se
que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades
humanas sejam provenientes da construção. Tais aspectos ambientais, somados à
qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações
entre construção e meio ambiente.
Na busca de minimizar os impactos ambientais provocados pela construção, surge
o paradigma da construção sustentável. No âmbito da Agenda 21 para a Construção
Sustentável em Países em Desenvolvimento, a construção sustentável é definida
como: "um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da
harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos
que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica". No
contexto do desenvolvimento sustentável, o conceito transcende a
sustentabilidade ambiental, para abraçar a sustentabilidade econômica e social,
que enfatiza a adição de valor à qualidade de vida dos indivíduos e das
comunidades.
Os desafios para o setor da construção são diversos, porém, em síntese,
consistem na redução e otimização do consumo de materiais e energia, na redução
dos resíduos gerados, na preservação do ambiente natural e na melhoria da
qualidade do ambiente construído. Para tanto, recomenda-se:
mudança dos conceitos da arquitetura convencional na
direção de projetos flexíveis com possibilidade de readequação para futuras
mudanças de uso e atendimento de novas necessidades, reduzindo as demolições;
busca de soluções que potencializem o uso racional de
energia ou de energias renováveis;
gestão ecológica da água;
redução do uso de materiais com alto impacto ambiental;
redução dos resíduos da construção com modulação de
componentes para diminuir perdas e especificações que permitam a reutilização
de materiais.
Além disso, a construção e o gerenciamento do ambiente construído devem ser
encarados dentro da perspectiva de ciclo de vida.
As tendências atuais em relação ao tema da construção sustentável caminham em
duas direções. De um lado, centros de pesquisa em tecnologias alternativas
pregam o resgate de materiais e tecnologias vernáculas com o uso da terra crua,
da palha, da pedra, do bambu, entre outros materiais naturais e pouco
processados a serem organizados em ecovilas e comunidades alternativas. De
outro lado, empresários apostam em "empreendimentos verdes", com as
certificações, tanto no âmbito da edificação quanto no âmbito do urbano. No
entanto, muito edifícios rotulados como verdes refletem apenas esforços para
reduzir a energia incorporada e são, em muitos outros aspectos, convencionais,
tanto na aparência quanto no processo construtivo. Além disso, deve-se
questionar os benefícios que um selo desenvolvido para outra realidade pode
trazer, especialmente para países como o Brasil que ainda não resolveram seus
problemas mais básicos como pobreza e desigualdade social.
Os governos municipais possuem grande potencial de atuação na temática das
construções sustentáveis. As prefeituras podem induzir e fomentar boas práticas
por meio da legislação urbanística e código de edificações, incentivos
tributários e convênios com as concessionárias dos serviços públicos de água,
esgotos e energia. Para contribuir com tais iniciativas, segue um conjunto de
prescrições adequadas à realidade brasileira abrangendo aspectos urbanísticos e
edilícios.
Para a implantação urbana, recomenda-se: adaptação à topografia local, com
redução da movimentação de terra; preservação de espécies nativas; previsão de
ruas e caminhos que privilegiem o pedestre e o ciclista e contemplem a
acessibilidade universal; previsão de espaços de uso comum para integração da
comunidade; e, preferencialmente, de usos do solo diversificados, minimizando
os deslocamentos.
No âmbito da edificação, entende-se como essenciais: adequação do projeto ao
clima do local, minimizando o consumo de energia e otimizando as condições de
ventilação, iluminação e aquecimento naturais; previsão de requisitos de
acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida ou, no mínimo,
possibilidade de adaptação posterior; atenção para a orientação solar adequada,
evitando-se a repetição do mesmo projeto em orientações diferentes; utilização
de coberturas verdes; e a suspensão da construção do solo (a depender do
clima).
Na escolha dos materiais de construção: a utilização de materiais disponíveis
no local, pouco processados, não tóxicos, potencialmente recicláveis,
culturalmente aceitos, propícios para a autoconstrução e para a construção em
regime de mutirões, com conteúdo reciclado. Além disso, deve-se evitar sempre o
uso de materiais químicos prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente, como
amianto, CFC, HCFC, formaldeído, policloreto de vinila (PVC), tratamento de
madeira com CCA, entre outros. Quanto aos resíduos da construção civil, deve-se
atentar para a sua redução e disposição adequada, promovendo-se a reciclagem e
reuso dos materiais.
Com relação à energia, recomenda-se o uso do coletor solar térmico para
aquecimento de água, de energia eólica para bombeamento de água e de energia
solar fotovoltaica, com possibilidade de se injetar o excedente na rede
pública. Sobre águas e esgoto, é interessante prever: a coleta e utilização de
águas pluviais, utilização de dispositivos economizadores de água, reuso de
águas, tratamento adequado de esgoto no local e, quando possível, o uso de
banheiro seco.
A respeito do tratamento das áreas externas, recomenda-se a valorização dos
elementos naturais no tratamento paisagístico e o uso de espécies nativas, a
destinação de espaços para produção de alimentos e compostagem de resíduos
orgânicos, o uso de reciclados da construção na pavimentação e de pavimentação
permeável, a previsão de passeios sombreados no verão e ensolarados no inverno.
http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-sustentavel/constru%C3%A7%C3%A3o-sustent%C3%A1vel